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CONVIVER COM O DIFERENTE: UMA URGENTE APRENDIZAGEM

CONVIVER COM O DIFERENTE: UMA URGENTE APRENDIZAGEM

Genésio Zeferino da Silva Filho
Belo Horizonte-MG 2002, mimeo

UMA NOVA CULTURA...

Hoje estamos vivendo o nascimento de uma nova cultura. A cultura da palavra e o seu campo estão sendo ocupados cada dia mais pela cultura da imagem. Uma cultura que nossas crianças e adolescentes vivem plenamente

A civilização da imagem é uma civilização muito menos conceitual, menos causal, menos analítica, menos organizada. A cultura ocidental e européia como nós vivemos e respiramos na escola há muito tempo, foi uma cultura de conceitos, de análises. A cultura da imagem, que nasceu por outros caminhos e, talvez, fora do binômio lógico-filosófico grego-latino, é uma cultura de informações paralelas, justapondo fatos, notícias, particulares, fragmentos de realidade. À base destas duas culturas existe uma lógica de raciocínio, um hábito a uma ginástica mental muito diferente entre si.

APRENDER A CONVIVER ...
APRENDER A DIALOGAR

Esta nova cultura exige de nós uma postura diferente diante das coisas, da realidade do outro. Uma postura dialógica, de convivência, de ser e estar com. O mundo hoje é um mundo de comunicação, de contatos, de relações constantes e, na maioria das vezes, novas. Temos, necessariamente que nos entender, dialogar, negociar o tempo todo se quisermos compreender os outros e nos fazer entender. Aprender a conviver com o diferente é uma necessidade, uma urgência.

PASSOS QUE PODEM AJUDAR NA CAMINHADA

Primeiro Passo:
CONVIVER NÃO É TOLERAR:

Um primeiro passo a ser dado em direção a um verdadeiro diálogo é estar convencido de que conviver e tolerar são realidades diferentes entre si. Não são a mesma coisa. Tolerar é estar diante de situações que não me agradam, mas que não me resta nenhuma outra opção, senão suportar uma delas. Então, não temos outra alternativa mais prazerosa, tenho que acabar aceitando a menos ruim. Isso é tolerar.

Aqui estamos falando de convivência e não de tolerância. Estar disposto a conviver é perceber valor no outro, é aceitar que na troca podemos nos completar, podemos somar. Não estou diante de escolhas desagradáveis, mas diante da possibilidade de crescimento, de enriquecimento no contato com o outro.
Segundo Passo:
EU NÃO SOU O CENTRO

Todo diálogo supõe, ao menos, dois parceiros. Se não há um inter-locutor, não pode haver diálogo.
Para o diálogo não basta a existência do outro. É preciso que eu o considere, que o veja como parceiro dialogante. É necessário que eu acredite que através do diálogo nós podemos crescer, nós podemos nos enriquecer. A etimologia da palavra dialogo aponta para o que ela significa: através da palavra (dia+logos) nós nos trocamos, nos entendemos. É como se a palavra fosse uma ponte através da qual nós nos relacionamos, passamos um, para o lado do outro.

Não pode haver diálogo verdadeiro se me coloco no centro, se só eu falo, se só eu tenho razão. Há pessoas que se comporta assim, o outro é sempre uma ameaça, pois entrar em relação com ele pode significar o risco de perder minha posição de centro.

Na ação educativa, estimular o trabalho em equipe, o esporte coletivo, pesquisa comum, avaliação trocada (um corrigir trabalho do outro) podem ser atividades que, aparentemente são simples, mas ajudam a educar para a alteridade, para perceber valor no outro, para ajudar a ver que não sou o único que sabe, o único que dá conta, que não sou o centro do mundo.

Terceiro passo:
NÃO COBRAR RESULTADOS IMEDIATOS

Há duas frases muito significativas que são atribuídas ao filósofo Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”, era a recomendação que fazia a seus discípulos. E, de si mesmo, dizia “Só sei que nada sei”. A busca do autoconhecimento é atitude constante de quem deseja crescer. Quem busca conhecer a si mesmo, reconhece seus valores, suas potencialidades, seus pontos fortes, bem como suas fraquezas, seu limites. Essa atitude requer humildade para o reconhecimento de si mesmo e paciência para construir um caminho de crescimento e de superação das fraquezas. É um caminho, às vezes, penoso, mas necessário que vai pouco a pouco, nos ajudando a conviver com os próprios limites.

O mesmo vale para o relacionamento. A paciência com o outro começa com a paciência consigo mesmo. Saber rir, com bom humor, dos próprios “tombos”, alegrar-se com os pequenos avanços. É o pequeno segredo para sermos também pacientes com aqueles que se relacionam conosco, e com os quais procuramos dialogar.

No contato com os educandos, lembremo-nos que, tanto nós como eles, estamos a caminho, em crescimento. Ninguém é acabado, pronto. À medida que caminhamos, vamos também construindo caminhos. A falha, o erro pode ser oportunidade de aprendizagem e de superação de outros.

Quarto passo
A PERCEPÇÃO DA VERDADE É PESSOAL

Um passo importante a ser dado em direção a um verdadeiro diálogo entre duas ou mais pessoas é experiência concreta dessa máxima: “ninguém é dono da verdade em sua totalidade”.

Afirmar isso não significa dizer que a verdade é totalmente relativa, que não tem objetividade. Toda verdade possui elementos positivos É isso que a torna verdadeira. Mas a percepção da verdade é sempre pessoal, subjetiva. Por isso que uma mesma assertiva comporta visões, interpretações diferentes.

Um pequeno exemplo: três pessoas presenciam um atropelamento na rua. Se forem narrar o que viram, serão três narrações diferentes. Cada uma apresentará aspectos que as outras não perceberam. Há algo de comum, o fato ocorrido, mas a percepção do mesmo é feita pelo observador. Isso se dá em todos os aspectos de nossa vida, em todas as circunstâncias. Conhecemos sempre parte da verdade e nunca a totalidade dela.

No relacionamento, não podemos querer impor ao outro as nossas verdades. E se o outro estiver certo? Ou, se pudermos somar suas certezas e as nossas? Há sempre pontos de vista diferentes que podem se completar, desde que haja abertura para tal.

Quinto passo
COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO

Voltando ao exemplo dado anteriormente, é provável que a posição onde se encontrava cada um dos observadores tenha influenciado na sua visão e percepção do fato. O lugar de onde enxergamos o mundo constrói nossa visão. Lugar aqui não é apenas físico, mas também psicológico, social, religioso, cultural e uma série de outros aspectos que compõem o “chão” de cada um de nós. É, então, a partir daí que vemos o mundo, que nos relacionamos com os outros, conosco mesmo, com o mundo.

Sair, então, de nosso lugar e colocar-se no lugar do outro é fundamental para uma postura de diálogo. Sair de nosso ponto de vista para entender o ponto de vista do outro, ver as coisas como ele as vê. Significa deixar a auto-suficiência, a pretensão de ser o centro do mundo. Se não saímos de nós mesmos, de nossos pontos de vista, e não relativizamos nossas convicções e verdades pessoais, não compreendemos verdadeiramente o outro. Se não o compreendemos, é impossível diálogo verdadeiro.

Sexto passo
AUTENTICIDADE NA RELAÇÃO

A tradição bíblica diz que Deus criou o céu, as águas, a terra, as plantas, os animais, os mundos, e viu que tudo era bom. Então, resolveu criar o homem e a mulher. E os criou à sua imagem e semelhança. Isso significa que somos da mesma natureza: a natureza humana, criada e chamada a assemelhar-se, cada vez mais à divina. É a nossa missão essencial.

Deus criou-nos numa só natureza. Somos unidade, não obstante tantas desavenças e desencontros. Mas não fomos criados iguais. A mesma tradição bíblica, numa belíssima imagem, narra Deus moldando, do barro, o primeiro homem. Aproveitando partes dele, faz sua companheira, a mulher. A imagem diz que Ele construiu pessoalmente, como se constrói uma obra de arte. Não somos resultado de uma produção em série. Deus não fez uma cadeia de produção. Veja o que acontece, por exemplo, com a produção de carros. Partes das peças são colocadas no início da esteira de produção e tudo vai sendo feito, de maneira padronizada. Muitas vezes, automaticamente, sempre da mesma forma. O resultado é previsível. Obedecidas as regras e normas, o produto é sempre igual. Nós, ao invés, não somos criados assim. Graças a Deus!
Cada um de nós é um, diferente, irrepetível, insubstituível. Isso não significa que somos independentes, auto-suficientes. Cada um de nós não se basta, completa-se na relação com os outros. Somos diferentes, é verdade, mas não sozinhos, isolados. Somos chamados à unidade, ao diálogo, ao entendimento, á complementaridade. Mas para que o diálogo seja autentico, é necessário que sejamos, pessoalmente, autênticos. É preciso que cada um seja si mesmo, na sua autenticidade, no seu jeito próprio de ser, com suas características pessoais.

Sobretudo hoje, quando a moda, o mercado de consumo, os meios de comunicação, a globalização estão a nos dizer comportamentos, atitudes, costumes, formas de pensar e de agir, muitas vezes, custa-nos ser diferentes; andar contra a corrente. O diálogo autêntico poderá ocorrer se os parceiros forem capazes de serem autênticos consigo mesmo; se cada um de nós formos, realmente, aquilo que somos: diferentes, em busca de complementaridade.

Sétimo passo
ARRANCAR RÓTULOS

Todos usamos, de certo modo, uma máscara; uns mais, outros menos. Não nos damos facilmente a conhecer como somos ou o que pensamos. Mostramo-nos seguros, auto-suficientes, autoritários, mas lá no fundo, somos inseguros, medrosos, conscientes de nossos fracassos e falhas. Não queremos mostrá-los e, às vezes, nem admitimos que os temos.

Por que temos tanto medo de mostrarmos o que somos, por que tanto medo de partilhar nossas vulnerabilidades, nossos medos e fraquezas? Por que é tão difícil admitir nossa insegurança, deixar correr lágrimas (homem, que é homem, não chora), sermos nós mesmos? Por que tanto medo de dar ou receber afeto e carinho?

Quando nos dispomos a partilhar nosso “eu”, estamos realmente nos comunicando. Reconhecer nossa fraqueza tem um efeito positivo sobre o outro. O fato de eu tirar a máscara vai inspirar o outro a fazer o mesmo. Tirar a máscara me ajuda também a melhor enxergar o outro e o mundo que me cerca.

Aqui vale também para as máscaras, ou rótulos, que vamos colocando sobre os outros. Passamos a enxergar o outro a partir dos filtros que vamos construindo: “êta, lá vem aquele chato de novo!” “Sabia que era aquele moleque endiabrado!” “Isso é coisa de pobre, de favelado”, “Puxa vida, aquele cara é demais. Ele é o máximo. E assim uma porção de outros rótulos (positivos ou negativos) que vamos colocando sobre as pessoas, que nos impedem de estabelecer uma convivência autêntica, verdadeira. Se nos fixamos a olhar apenas o rótulo da garrafa, não conseguiremos ver o que está em seu interior. O mesmo se dá na relação com as pessoas. Para um diálogo verdadeiro é preciso deixar cair as máscaras, arrancar os rótulos

Oitavo passo
OUVIR MAIS QUE FALAR

Estamos rodeados de sons o dia inteiro. Eles nos atingem e nós ouvimos, mas nem sempre tomamos consciência deles. Sobretudo hoje, somos constantemente interpelados e seduzidos pelos mais diferentes e numerosos apelos de sonoros, visuais, afetivos e tantos outros. Os meios de comunicação social ampliam seu poder de sedução.
Quando alguém nos dirige a palavra, é mais um som que nos alcança. Mas difere dos outros, porque é um ser humano que nos faz um apelo. Pede uma resposta. Resposta que nem sempre precisa ser dada com uma palavra, mas com nossa acolhedora atitude de escuta. Escutar é ouvir atenta e conscientemente.

Nós não ouvimos tudo. Ouvimos o que, de alguma forma, nos interessa. Não se trata de um voluntarismo inconseqüente, como se cada um de nós só ouvisse aquilo que, determinadamente, quisesse dar ouvido. Significa que, de tudo aquilo que nos chega, apenas algumas coisas são ouvidas. Há um processo de seleção entre aquilo que será retido e o que não o será. Ainda bem que é assim!

O ato de escutar deve ser atento para que possa acolher a comunicação emitida, além das palavras: pelo gesto, pelo olhar, pelos sentimentos expressos através da postura e do semblante do outro. Acolher é o segredo para bem escutar.

A acolher bem o outro é uma atitude que Dom Bosco vivia e recomendava a seus seguidores. O sistema educativo deixado por ele, o Sistema Preventivo, tem sua base no acolher o outro. Quem acolhe, ouve. Quem ouve é capaz de dialogar verdadeiramente.

PARA REFLETIR:

a. Quais são as principais dificuldades que você encontra para “aprender a conviver”.
b. Dos passos para o diálogo apresentados nos texto, quais você considera mais difícil de se dar e por quê?
c. Que outros passos você julga fundamental para estabelecer o diálogo?




2 Comentários:

Chris disse...

Acredito que a maior dificuldade é dispor mais, quero dizer dialogar mais, eu ouço mais do que diálogo, isso é bom, mas nem sempre é bom, talvez eu devesse dialogar um pouco mais do que só escutar.
Acho que o faltou no texto palavas super importantes:
RESPEITO, em um diálogo é preciso respeitar a hora de quem vai ouvir e de quem vai escutar!
SE PERMITIR! Se abrir para opinar e falar.
VENCER A VERGONHA, TIMIDEZ! Muitas pessoas são capazes, são grandes portadoras de conhecimento, porém não criam diálogos porque de alguma forma se sentem oprimidas em falar. É preciso vencer!!

Glaucia Campos disse...

Obrigada Professora Chris por sua participação. Participe sempre... um beijo
Glaucia Campos

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Palavrões NÃO são Permitidos

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